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Pesquisa em Artes

Atualizado: 27 de mai. de 2022

por Helder Oliveira



O trabalho de Pesquisa em Artes é muito amplo, cabe aqui falarmos de Curadoria, Estudos em História da Arte, Pesquisa Iconográfica, Produção de Material Didático, Treinamentos etc. Basicamente é todo e qualquer serviço que envolva estudos e pesquisa, tendo como objeto a arte. Aqui na H.O. Especialista e Perícia em Artes, compreendemos arte como toda e qualquer manifestação que se expresse esteticamente e seja considerada, pelo mercado e pelos pares como arte. Dito isso, há espaço para pesquisas que envolvam design, moda, arquitetura etc. indo bem além dos tradicionais quadros e esculturas. Para simplificar, vamos falar sobre Curadoria, Pesquisa em Estética e História da Arte, Pesquisa Iconográfica, Produção de Material Didático, e Treinamentos para Gestão de Coleções de Arte (Conservação Preventiva).


Curadoria

Curadoria é uma palavra que tem dois sentidos originais: um está relacionado ao fato de cuidar, de ter cuidado; e o segundo significado é de um pesquisador que se debruça sobre um tema, e cria um discurso estético sobre o tema estudado, construído, não raro com objetos artísticos diversos. Percebemos que o curador é alguém que pesquisa e administra uma exposição, uma mostra, um catálogo etc. A FUNARTE - Fundação Nacional das Artes - define curador, ou melhor, conecta o significado com a função de conservação e preservação de obras de arte, que é a concepção mais antiga da palavra, no meio artístico, quase como sinônimo, durante um bom tempo, de conservador de obras de arte (especialmetne no espaço institucional de um museu). A partir das últimas décadas do século XX ganha também o sentido de ser o espaço de concepção das exposições.

Conceber uma exposição é um ato de pesquisa vertical sobre algum tema, técnica, artista, movimento, estilo etc. Porque é o estudo aprofundado que gera o discurso, a escolha e as decisões expositivas. Segundo Castilho e Salcedo (2008) a curadoria desempenha o papel de tutoria, de cuidar, preservar uma exposição de arte desde a ideia até o seu gerenciamento. Assim a atividade de curador é determinar o tema de uma exposição e a maneira como ela será apresentada ao público. Ele agrupa e articula manifestações artísticas que possuem alinhamentos estéticos ou conceituais revelando debates, visão crítica, ou simplesmente padrões de produção artística de um artista, ou período, ou estilo. O que importa é a exposição ser o resulado de um processo que nos dá a sensação de um texto sensorial que tem uma unidade, um sentido comum, uma mensagem.



Pesquisa Iconográfica


Segundo Erwin Panofsky "Iconografia é o ramo da história da arte que trata do tema ou mensagem das obras de arte em contraposição à sua forma" (p.47), este autor fez a distinção entre iconografia e iconologia, definindo iconografia como o estudo do tema ou assunto, e iconologia como o estudo do significado do objeto. Portanto, a pesquisa iconográfia, inicialmente pode ser compreendida como abarcando dois níveis de análise, a descrição pré-iconográfica, que fala a partir da experiência e familiaridade com os objetos, compreendendo a partir de estilos; e o conhecimento propriamente iconográfico, que traz o conhecimento de fontes críticas e literárias, trazendo temas e conceitos específicos do tipo de imagem a ser analisado. De acordo com o autor: "compreensão da maneira pela qual, sob diferentes condições históricas, temas ou conceitos foram expressos por objetos e eventos" (p.65).


Na indústria criativa, a iconografia é a pesquisa e seleção das imagens que vão ser publicadas em um livro, texto, exposição, filmes etc. A pesquisa iconográfica traz conteúdo imagético para dentro de um texto/roteiro, elas podem ser meramente ilustrativas ou dialogar em profundidade com o texto, sendo parte da argumentação, ou ainda ser referências criativas para outras formas de arte e design como cenários, figurinos, identidades visuais, apoio para empresas. A pesquisa iconográfica que mais temos intimidade é a utilizada na realidade de museus e galerias que fazem exposição de arte, e que usam deste material que enriquece a relação com a obra que está exposta para o espectador, ou mesmo serve de apoio educativo.




Pesquisa em Estética e História da Arte

Vamos falar a verdade, quem não gosta de apreciar arte, parafraseando a música, "bom sujeito não é!". Afinal, a experiência com a arte é agradável e prazerosa, desafiadora e instigante, e mesmo, questionadora. No entanto, apreciar integralmente e compreendê-la em suas diversas camadas de significado exige conhecimento. Especialmente de duas abordagens fundamentais: a Estética e a História da Arte. Basicamente a diferença entre as duas é que a Estética trata do complexo de sensações e dos sentimentos que objetos/manifestações podem potencialmente disparar em uma pessoa (ROSENFIELD, 2006, p. 7). Podemos resumir dizendo que a Estética é a base teórica sobre a concepção de experiência e juízo que gera a crítica de arte e os debates contemporâneos sobre arte. Já a História da Arte é um campo da História que trata da cultura material compreendida como arte. É o estudo histórico sobre documentos/manifestações que hoje em dia são reconhecidos socioculturalmente como objetos/manifestações artísticas. Os documentos da História da Arte são muito variados, e, geralmente, trazem consigo o desafio da leitura de imagens (visuais, sonoras, táteis, olfativas e/ou palatáveis) daquilo que hoje consideramos arte.


Mas o quê consideramos arte?

Há diversas definições sobre o que é ou não é arte, mas partindo de indicações de E.H. Gombrich e Jorge Coli, podemos dizer que a Arte, para esse universo do mercado e do mundo dos objetos considerados arte, é um estatuto ou estado que é outorgado externamente (por especialistas como historiadores, restauradores, críticos, curadores etc., ou por instituições como o museu, a galeria etc.) a um objeto e/ou manifestação, portanto, a arte e suas regras são constituídas e legitimadas em/a partir de seus contextos históricos.


Para quê serve a pesquisa em Estética e História da Arte? Entre outras coisas, ela busca compreender essa faceta e necessidade da humanidade em produzir coisas que tocam o sensível, que nos educam sensivelmente, e que fazem o nosso dia a dia um lugar para além do conhecimento racional. Do ponto de vista acadêmico é um conhecimento de supra importância para aprofundar a visão crítica sobre as artes de uma maniera ampla e irrestrita. Do ponto de vista tácito, essas pesquisas podem gerar políticas de aquisição e de promoção das artes, festivais, exposições, livros e propostas didáticas.


Produção de Material Didático em Artes

A produção de material didático é um meio de fazer o mundo da arte ser acessível a mais pessoas, também é uma maneira de espraiar o conhecimento produzido pelas pesquisas em artes para diversos tipos de públicos. No senso comum há mitos como "arte não se ensina", ou "sicrano nasceu sensível", ou ainda "sempre foi muito criativo", são todas afirmações bastante problemáticas, porque, a arte é ensinada sim, as pessoas não nascem sensíveis, ou criativas, elas são expostas e educadas de maneira a se tornarem e valorizarem essas características, ou mesmo, quando essa vontade vem das próprias, elas se dedicam tenazmente a aprender mais e mais sobre arte. Os materiais didáticos entram aí, eles são um meio de aprender, de se sensibilizar a partir das artes, ou sobre as artes.


A pesquisa que é feita para a produção de material didático portanto precisa, em primeiro lugar, saber para quem será feita. Pois uma coisa é se produzir um material para quem já é iniciado e convive com as artes, outra coisa, completamente diferente é elaborar um material didático para quem terá seus primeiros contatos com a arte. Por exemplo, o clássico livro de E.H. Gombrich, "A História da Arte", quando foi feito, foi elaborado sob encomenda e foi feito para introduzir adolescentes ao mundo das artes, isso há aproximadamente 70 anos atrás. Mas é um livro tão didático, tão bom para ser uma introdução, que até hoje é constantemente reeditado e usado. É lógico que ele não trata de questões contemporâneas pertinentes como o desenvolvimento da arte asiática dos séculos XX, a africana para além da arte nativa, se quer cita a ameríndia, muito menos fez questionamentos decoloniais etc. Como falei anteriormente, a definição de arte muda ao longo dos desenvolvimentos dos contextos, sendo assim, quem pesquisa e escreve materiais didáticos hoje necessita e não deve se esquivar dos temas contemporâneos. Mas todo livro também, quando lido, deve levar em conta seu contexto de origem.


Alguns livros clássicos que recomendo para quem está começando na História da Arte:


Em um mundo repleto de possibilidades e com formas revolucionárias de comunicação, o material didático, vai muito além dos livros, apostilas e roteiros de aulas, ele está presente nas redes sociais, em games, nas ruas e até em memes. Um bom canal sobre arte, para começar a aprender sobre arte na internet é o canal de Youtube "Vivi eu Vi", e há também, os canais dos museus, como o do MASP que coloca diversas palestras sobre as exposições e temas transversais disponíveis, no Instagram o engraçado, mas bem informativo "História da Arte com Tio Virso". Quer acompanhar Arte Contemporânea sem mil explicações, mas como se estivesse andando pelas exposições que acontecem agora no mundo? Então ande pelas galerias e exposições internacionais via o canal de Youtube Vernissage TV


Vivi eu vi

Canal do MASP


Vernissage TV


Treinamento e Gestão de Coleções de Arte (Conservação Preventiva)

Gestão de coleções de arte pede na verdade um texto só para o tema, mas vamos tentar aqui resumir e trazer como a pesquisa entra no dia a dia das pessoas que trabalham com coleções de arte, seja particulares, ou institucionais. Para administrar uma coleção é necessário conhecê-la e é aí que entra o primeiro nível de estudos sobre o tema: a pesquisa sobre as obras que fazem parte da coleção. É necessário organizar e ordenar tudo em documentações que descrevam desde coisas físicas sobre a obra, como medidas, materiais, técnicas aplicadas, estado de preservação (fichas técnicas) até o nome da obra, o gênero, artista etc. também é ali que colocamos a história da obra, ou seja, por onde ela já passou em sua existência, exposições, proprietários, restauros e intervenções etc. Toda essa salvaguarda de informações é importante para que a salvaguarda física da obra seja feita da melhor maneira possível. A melhor maneira de fazer isso é pela Conservação Preventiva que são as práticas aplicadas para se conservar a integridade física da obra de arte, de maneira a evitar restauros/intervenções muito drásticas, e assim manter sua integridade original, bem como manter o seu valor e mesmo ajudar em seu processo de valorização.


Dependendo do tamanho da coleção, as paredes da casa do colecionador já não são mais um lugar possível para guardar/export tudo. Aí é necessário um local adequado para o acervo (reserva técnica e mobiliário especializado) e ter pessoal, em tempo integral, para cuidar das obras, e essas pessoas precisam ser treinadas. No caso, a H.O. além de fazer e organizar a documentação, planejar e executar acondicionamento, elaborar a higienização inicial, etc. também pode treinar o pessoal que lidará diariamente com a coleção, de maneira a fazer higienização de maneira adequada, bem como manter a documentação sempre atualizada.


A pesquisa aqui envolve tanto a história da obra quanto a integridade da obra de arte. A melhor maneira de guardar tanto as informações sobre ela, quanto de fazer a manutenção física dela.


Como você pode se iniciar em pesquisa em arte?

Indico começar com cursos livres, diversos museus oferecem cursos bem legais de arte e história da arte, presenciais e online. Órgãos ligados ao patrimônio e as artes (como IPHAN, IBRAM, Condephaat-SP etc.) tem diversos cursos sobre conservação, muitos são gratuitos. Caso você perceba que quer mesmo ir se aventurar profissionalmente na área, partir para uma graduação ou especialização, pode ser um bom primeiro passo, há diversos cursos em História da Arte, Museologia, Artes etc. Quer se aprofundar mais? Mergulhe nas pós graduações em nível de mestrado e doutorado.


Vou dar como exemplo o meu percurso para você se inspirar e fazer o seu: eu comecei fazendo cursos livres em arte (de pintura a história da arte), depois fiz graduação, no caso Educação Artística (FAAP), segui para uma especialização em Museologia (USP) e mestrado em História da Arte (Unicamp). Hoje, continuo estudando, faço doutorado em História da Arte (Unifesp), e complemento meu conhecimento sobre arte, patrimônio, restauro, conservação etc. fazendo cursos livres com bons profissionais e em boas instituições ao longo de meu caminho. Presenciais ou não, bateu curiosidade? Eu faço, afinal, conhecimento não ocupa espaço e sempre pode ser útil.

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